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A GERAÇÃO QUE TEM MEDO DO FRACASSO

A GERAÇÃO QUE TEM MEDO DO FRACASSO

Quando tomei posse como Defensora Pública Federal, fui lotada na cidade de Rio Branco. Nos primeiros dias, lembro-me que uma situação me deixou em estado de pânico: as dúvidas dos estagiários!

A cada batida na minha porta meu coração gelava. O peso de ter que saber responder todos os questionamentos (inclusive os mais criativos possíveis sobre direito previdenciário) me tirava paz. É que a vida (o concurso, os examinadores, as pessoas ao redor) tinha me vendido a ideia de que eu não tinha o direito de errar.

Sentia como se a qualquer momento fossem descobrir a fraude em pessoa que eu era, com sirenes e o DPGF batendo à porta me mandando voltar pra casa kkkk. Com o tempo e os estudos na área de coaching, fui percebendo que o medo do fracasso não era exclusividade minha. Notei que criamos uma geração que anuncia uma imagem tão maquiada, tão superficial, tão “facetune” e Clarice Lispector que nos tornamos reféns da nossa própria idealização falaciosa.

O medo do fracasso surge quando acreditamos que o parâmetro de sucesso é alguém imperfeito (aquele que estuda 12 horas, aquela que parece ter o corpo dos sonhos, aquele que faz 5 viagens pra Europa no ano). As redes sociais surgiram para catalisar esse processo de escravização social da imagem. O efeito dessa onda de autocobrança e comparação com o padrão maquiado e viciado nós já conhecemos: frustração, medo, depressão, ansiedade etc.

Temos receio que as pessoas descubram que não somos tão “cool” assim. Que na real nunca lemos aquele livro que postamos. Que não sabemos falar inglês fluentemente. Que a nossa barriga não é tão chapadinha assim (só quando a gente se estica muito e fica sem respirar pra foto – quem nunca-, com o adendo dos artifícios tecnológicos). Que não curtimos tanto assim Marisa Monte, como falamos pro crush, e que o nosso negócio mesmo é rebolar a bunda com Anitta. Que nos endividamos comprando roupas de marca e carros de luxo que não podemos pagar. Que deixamos de investir nos nossos projetos pra ter dinheiro pra áreas dos show que não são condizentes com a nossa situação financeira. Que fomos rejeitados por quem amamos. Que reprovamos. Que não somos tão interessante, legal, intelectual, engraçado e cabeça como anunciamos.

E, por fim, que sofremos dia e noite para manter fielmente as mentiras que contamos sobre nós mesmos. Nesse outdoor de inverdades (o Instagram é um catálogo exemplar), somos expectadores e produtores de fotos, momentos e legendas que muitas vezes não refletem o que somos. Nem tudo é mentira! Mas boa parte de tudo não é verdade. Esse não é um texto de apontar dedos. São linhas que buscam o autoconhecimento, da autora e do público.

Por isso, quais as mentiras que você tem contato sobre você mesmo? Que rótulos você tem criado? Por que você tem medo do fracasso? Por que você tem medo de ser descoberto? Por que você tem vestido essas roupas, andado com essas pessoas, falado sobre coisas que não lhe interessam? Por que você tem comprado o que não gosta? Por que estamos “perdidos entre monstros da nossa própria criação”?

Descoberta é liberdade. É preciso ter coragem de se descortinar. É preciso descobrir a delícia de ter a “coragem de ser imperfeito”. É preciso desfrutar do alívio do “não sei”, “errei”, “não passei”, “não conheço”, “esse é meu corpo”. A verdade liberta!
Que possamos nos libertar.

Por: @fernandaevlaine